Que o serviço de telefonia é o campeão de reclamações no Procon, e nesse quesito o grupo Telefônica lidera com boa vantagem, quase todo mundo sabe. São cerca de cento e três contatos mensais com o serviço de proteção ao consumidor, um sem fim número de xingamentos diários (com referências explícitas às mães de alguns dos atendentes) e, ocasionalmente, ameaças de morte que incluem barbáries como “Vou te buscar onde você estiver e te levar pro inferno, seu merda”. Mas um caso extremo aconteceu na última semana, quando Dona Zélia – ex-professora de gramática do ensino público lecionando por mais de 40 anos – foi ao Procon denunciar a empresa, em especial a funcionária Wanda, pela “prática hedionda e uso indevido da Língua Portuguesa”. Zélia contou ao funcionário que a atendeu que sentiu-se “agredida” pelo “compungente e dorido diálogo” que “além de desdobrar-se por mais de 115 minutos, feriu-me os ouvidos com o uso excessivo de gerúndios”. A senhor alegou ao funcionário que tentou corrigir a senhorita ao ouvir-lhe dizer “eu estarei transferindo a senhora para meu supervisor”, ao que foi mal interpretada “não é pra estar transferindo a ligação para o supervisor?”.

Dona Zélia foi ao Procon munida de cerca de 40 livros. O funcionário que a atendeu pediu demissão.


Após o mal-entendido inicial, foram exatos trinta e sete minutos enquanto Dona Zélia lia e discutia com Wanda os parágrafos de sua Gramática Estendida da Língua Portuguesa tentando evitar que a garota continuasse a cometer os mesmos excessos e vícios com os desvios da norma culta. Dona Zélia conta que havia ficado bastante satisfeita com o rápido da garota, mas irritou-se definitivamente ao ouvi-la agradecendo os conselhos “obrigado, senhora, muito obrigado por estar perdendo seu tempo e estar me ensinando essas coisas”. Como o caso é único o Procon ainda não soube avaliar se dará ou não continuidade ao processo. A atendente foi proibida de falar com a redação e, segundo fontes confidenciais, está sob custódia do gramático Marcos Bagno.