Foi Jurandir Barbosa, ex-vendedor de garapa e, hoje, conhecido pelos moradores do bairro como “Seu Pilantra”, quem encontrou o corpo de Fabrícia, às 12:47, quando o sol judiava e os pedestres amontoavam-se para ver a eficácia dos ambulistas, paramédicos e Ricardo Negrão, branco, triatleta renomado que presta serviços comunitários às terças e joga xadrez de velocidade nos sábados com o grupo gospel “Patrimônios do Senhor”. De acordo com o laudo médico momentâneo a causa da morte foi “não sabemos”, contudo, o experiente bicheiro Soares da Costa Neto – homem de sobrenomes – sujeito encantador trajando vestuário veraneio e uma bela corrente de prata, presente de um deputado amigo seu a quem preferiu manter em sigilo por ser “homem de muito requinte e garbo”, a garota veio a falecer por acidez lactósea ou acidose láctica (haveria de estudar melhor o caso), enquanto outros acreditam ser o efeito letal de leite com manga. O robusto Ricardo elevou o corpo da jovem à altura do tórax e fez três levantamentos – sob gritos e aplausos efusivos da platéia – antes de repousá-lo na maca prontamente preparada pelos paramédicos, que retiraram-se rapidamente do local fazendo a incrível marca de 80 km de 0 a 100 segundos numa Kombi, registrado na competição regional de atendimentos urgentes. Aproveitando o burburinho da ocasião, Ricardo ainda fez demonstrações de malabares, jogou capoeira com uma senhora que vive no bairro “há 67 anos” e convidou a todos para um churrasco na sua casa ao som do melhor do gospel. Vale lembrar que os convites podem ser comprados com o próprio Ricardo, onipresente, por R$15 ou dois ou três elogios à sua virilidade.