Na próxima quarta-feira, dia 13, boa parte dos aproximadamente 4.146 moradores de Presidente Kennedy (TO) deixarão seus afazeres diários de lado para dedicaram-se aos preparativos da final da Liga Miniból de Futebol Americano do Norte do Tocantins. O dia, quando normalmente acontece as novenas e cultos a São Tadeu, foi excepcionalmente transferido para a quinta-feira seguinte para que os cidadãos pudessem cooperar com o que fosse necessário para o êxito do jogo.


Afinal, não é pra menos, pois desde o final de 2005 os habitantes de Presidente Kennedy vêm contribuindo mensalmente com uma quantia – definida pelo próprio morador – que seria utilizada para a construção do estádio. Faltando apenas três meses para a partida final foi constatado que o ministro de eucaristia da Pastoral de São Tadeu havia furtado metade do orçamento para a obra. Dessa forma, o campo – que é padronizado em 100 jardas ou 90 metros – teve de ser construído com a metade da área, o que gerou um transtorno para o técnico e a equipe dos novatos do Tropeiros de Dallas (bela homenagem ao time do coração da cidade “Dallas Cowboys”), que tiveram de passar por um treinamento dobrado devido a diminuição da área de jogo. A própria Federação Tocantinense de Futebol Americano (FTFA) entrou com um pedido para a transferência do jogo para a capital Palmas, mas uma manifestação popular organizada pelas beatas de Presidente Kennedy conseguiu convencer os dirigentes da FTFA que o jogo poderia acontecer ali da melhor forma possível (embora os argumentos não tenham sido divulgados). Entretanto, ao invés de 60 minutos, a partida terá 2 horas e conta ainda com um intervalo de meia-hora onde serão vendidos quitutes e acontecerá a apresentação do Coral de São Tadeu.

Muito embora toda a obstinação da cidade tenha motivado o time, o técnico Amauri Amaral sabe da dificuldade do jogo contra os bicampeões Falcões do Campo, comandados pelo técnico Muricci Ramalho – confundido frequentemente com o técnico de um time paulista de futebol tradicional, esporte pouco apreciado pelos habitantes da simpática Kennedy. “A equipe fez uma bela campanha”, contou Amauri à reportagem, “mas os Falcões foram invictos e contam com o melhor quarterback da Liga”.

O técnico preferiu não dar nenhuma coletiva e o último treino antes da partida acontecerá na terça-feira à noite sob o maior sigilo. Nem mesmo os habitantes da cidade sentem-se à vontade ao falar com a Imprensa sobre o jogo. Dona Maria José, mãe do wide receiver Zé Lessa, disse para o jornal que “meu filho é um ótimo jogador. Tenho certeza que ele não cometerá nenhum fumble”, fazendo referência à partida em que Zé falhou num momento decisivo para os Dallas e deu um touchdown para a equipe adversária. Perguntada sobre as perspectivas do filho no time e o futuro da seleção, a senhora desesperou-se e correu para o carrinho de lanches do Pablo: o Rei do Sabor.



No detalhe: a capital Palmas e a simpática Presidente Kennedy


A Tradição
O futebol americano chegou à Presidente Kennedy em 1959, quando o rico latifundiário búlgaro Gheorghieff Andreiev, após um período plantando milho no Corn Belt em Illinois, veio para o Brasil trazendo duas filhas, trezentos e vinte e sete dólares, seu moleton do Dallas Cowboys e uma bola lançada durante um treino que foi parar na sarjeta da Psycopath no momento exato que ele passava por lá. Os moradores mais velhos da cidade contam que Andreiev gastava longas tardes jogando sua bola para o alto sentado numa esquina da movimentada Rua da Abolição enquanto tentava assimilar o português. Foram quase cinco meses até que o búlgaro entrasse no Armazém do Gil e gritasse “Alguém jogar?”. Os freqüentadores do que viria a ser o único boteco da cidade ficaram surpresos com a reação do búlgaro e ainda mais atônitos quando viram Augusto Moreno virar um copo de cachaça e dizer “Eu”. A partir desse dia iniciou-se uma amizade que perduraria até o ano de 1998, quando Gheorghieff Andreiev faleceu vítima de um câncer no esôfago. Augusto, que viria a morrer dois meses depois atropelado por uma manada de búfalos da fazenda de Andreiev, ajudou a construir a sede do Tropeiros de Dallas, que foi fundado pela parceria dos amigos em 1961 quando eles ainda tinham apenas 7 jogadores – e dois deles ultrapassavam há muito a casa dos 60. Hoje, o Tropeiros conta com mais de 30 jogadores, o técnico Amauri Amaral, além de dois preparadores físicos, um advogado e Dona Marta, cozinheira que prepara o pinhão e a vitamina “dos menino”.
A partida será transmitida ao vivo pela rádio local e tem início às 20h00. Os ingressos foram vendidos através de rifas como forma de evitar o favorecimento no ato da compra e o jogo define o campeão do torneio e oferece uma vaga para o Superbowl do Tocantins. Confira aqui a cobertura completa na quarta-feira!